segunda-feira, 30 de setembro de 2019

COISAS QUE O POVO DIZ

A VERDADE POPULAR
NEM SEMPRE AO SÁBIO CONDIZ,
MAS HÁ VERDADE SERENA
NAS COISAS QUE O POVO DIZ.

                  (Aldemar Tavares, 1888-1963)

Sessenta anos de pesquisa, ouvindo-se diretamente das pessoas, resultou um esplêndido documentário por Luis da Camara Cascudo: LOCUÇÕES TRADICIONAIS NO BRASIL - coisas que o povo diz. 

E foi pesquisando neste livro que surgiu a inspiração de gravar um episódio onde o Menino do Campo Santo* mostrar como ele entendia cada uma das expressões. Porém, esteva lá a mãe do menino para dar as devidas explicações:


Decidimos fazer uma lista inicial com 13 expressões, já fazendo referência ao número 13 e seus múltiplos significados no imaginário popular. 

Eis a sequência e os devidos significados: 

1. ENTROU PELO CANO: fracassou, se deu mal em determinada situação. 2. AQUI É QUE A PORCA TORCE O RABO: parte onde a tarefa é mais complicada, difícil. 3. ISSO É SOPA NO MEL: algo muito fácil de se fazer 4. DEU COM OS BURROS N'ÁGUA: não encontrou o que buscava, não conseguiu o que queria 5. VÁ PENTEAR MACACO: para a pessoa parar de amolar e ir fazer algo mais útil 6. PINTAR O SETE: fazer peraltices, bagunça. 7. NÃO DEIXA A PETECA CAIR: não desistir, não desanimar. 8. TOMAR CHÁ DE SUMIÇO: ficar muito tempo sem aparecer, sem fazer uma visita. 9. TÁ COM DOR DE COTOVELO: diz-se de quem está com ciúme ou inveja de outra pessoa 10. VAI LAMBER SABÃO: para a pessoa parar de amolar ou parar de falar malcriação 11. FICOU COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA: ficou desconfiado 12. É DE TIRAR O CHAPÉU: algo que merece reconhecimento, respeito 13. ENTRAR COM O PÉ DIREITO: é uma superstição, para dar sorte.

Se achou interessante, comente. Estamos pensando em gravar mais uma lista com mais 13 locuções. Até mais! 

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

O QUE É, O QUE É? (ADIVINHAS)

1 - Anda, anda e volta sempre pro mesmo lugar? 
2 - Casa rosada que tem até 32 moradores dentro dela?
3 - Quando recebe facadas, quem dá a facada é quem chora?
4 - Qual o banho que se toma e não se fica molhado?
5 - Anda na água, toma chuva e não se molha?
6 - O livro tem e a árvore também?
7 - Qual o céu que não tem estrela, nem sol, nem lua?
8 - Casinha sem porta nem janela, joga pra cima é branca, cai no chão é amarela?
9 - Não sai de casa, mas está sempre molhada?
10 - Tem casa, mas mora em cima dela?
11 - Passa o dia no céu e a noite dentro d'água?
12 - Nasci na água, na água me criei, se me puserem na água, nela morrerei?
13 - Por que o marido da viúva não pode casar com a cunhada?
14 - Está sempre vindo, mas nunca chega?
15 - Qual é o animal marinho que, sem a primeira sílaba, manda a gente ler?
16 - Altas varandas, formosas janelas, que se abrem e fecham sem ninguém tocar nelas?
17 - O que a máquina de somar disse ao contador?
18 - Três homens caírem do barco, mas somente dois molharam os cabelos. Por quê?
19 - Anda pela casa o dia todo, mas à noite fica encostada num canto?
20 - Tem no céu, na terra e no inferno?
21 - Tem cintura fina, perna alongada, toca corneta e leva bofetada?
22 - Tem braços mas não é gente, tem leito mas não é cama?
23 - Tosa as pessoas tiram quando vão pra cama?
24 - Tem cabeça mas não é gente, tem dente mas não morde?
25 - Quando põe a cabeça, fica mais baixo; quando tira a cabeça, fica mais alto? 
26 - Quanto maior, menos se vê?
27 - Quanto mais se tira, maior fica?
28 - A gente parte e reparte, põe na mesa, mas não se come? 
29 - Bota ovo mas não tem pena e anda com os pés na cabeça? 
30 - Anda anda, passo a passo, existe inteira, mas tem nome de pedaço? 



RESPOSTAS:

1- ponteiro do relógio
2 - boca
3 - cebola
4 - banho de sol
5 - sombra
6 - folhas
7 - céu da boca
8- ovo
9 - língua
10 - botão
11 - dentadura
12 - sal
13 - Porque já morreu
14 - o amanhã (ou o futuro)
15 - baleia
16 - pálpebras (olhos)
17 - Me aperta que eu conto tudo!
18 - Porque um era careca
19 - vassoura
20 - letra E
21 - pernilongo
22 - rio
23 - uma soneca
24 - alho
25 - travesseiro
26 - escuridão
27 - buraco
28 - baralho
29 - piolho
30 - meia 



quarta-feira, 5 de junho de 2019

MOLDES PARA BONEQUINHOS DA "MENINA E A PORQUINHA"

Olá! 

Atendendo a pedidos, estou incluindo aqui no blog os moldes dos bonequinhos que são utilizados na contação de histórias da "A menina e a porquinha" (essa história aparece também com outros nomes e variações "A porquinha e a pinguela", "A velha e o porquinho", etc). 

Eis a versão que está no canal: 


Tenho muito carinho por essa história, porque foi a primeira que aprendi, ainda adolescente, de tanto ouvir uma tia contar para meu irmão caçula. É um conto cumulativo, muito agradável aos pequenos. Quando eu aprendi a contar, foi apenas com a oralidade. Porém, foi muito interessante introduzir o recurso cênico, que fez com que a contação ficasse ainda mais lúdica: 



A base foi feita com E.V.A. (de um tipo mais resistente. Pode ser também com papelão). No mais, foram aproveitados retalhos de tecido, feltro, olhinhos prontos e o que a criatividade mandar (cola com gliter, miçanças, etc)

Aqui estão os moldes (eles estão invertidos em relação aos bonecos prontos). Para imprimir, utilizar o tamanho A4: 




São como se fossem pequenas almofadas. Com a cola quente a gente cola o tecido nas bordas do EVA, deixando uma pequena abertura para introduzir o enchimento (que podem ser retalho picadinho). Depois a gente coloca os detalhes, olhinhos, etc. Atrás, vai um pregador de roupas (em alguns bonecos eu tive que cortar o pregador para que ele coubesse atrás da figura)


Como aparece no vídeo, são feitos para serem colocados assim, ordenados num pequeno biombo (feito com capas duras de cadernos velhos e recobertas com tecido). É legal pedir as crianças que ao final da história, ordenem tudo de novo. Aliás, elas amam repetir essa história. 

Para o bonequinho da "corda" eu usei um pequeno pedaço de corda colado em forma de espiral e para a "varinha", um pedacinho de bambu, mas existem outras possibilidades. Aqui, por exemplo, foi usado um raminho de plástico: 



Uma amiga fez pra mim um versão em EVA para ser usada como adereço de cabeça. Costumo usar para recontar a história com a participação das crianças. Com os adereços na cabeça, elas interpretam cada personagem. O adereço tem uma base de EVA e um pedaço de elástico. Bem simples e prático: 



Se quiser receber os moldes em arquivo PDF, posso enviar por email. 
Escreva para 
historiasviajantes@gmail.com 

Espero ter ajudado. Qualquer dúvida ou sugestão, coloque nos comentários! (quem sabe eu ainda faça um tutorial mostrando a confecção, rsrsrs) 

Até! 







quarta-feira, 22 de maio de 2019

FÁBULAS... PARA DESPERTAR CONSCIÊNCIAS







“Se se quiser falar ao coração dos homens, 
há de se contar uma história.
 Dessas onde não faltem animais, 
ou deuses e muita fantasia. 
Porque é assim – suave e docemente – 
que se despertam consciências.”

Jean de La Fontaine






"Fábula: narrativa alegórica com função moral, tendo animais ou pessoas como personagens"  

A definição sobre o que são fábulas nos diz que são pequenas histórias que trazem consigo alguma lição de moral. As personagens das fábulas são geralmente animais e representam características humanas (quando os personagens são seres que não possuem vida, a fábula recebe o nome de apólogo). 



Surgiram no Oriente e tiveram períodos históricos variados, entretanto, se popularizaram no mundo todo através da oralidade e das obras de autores dedicados ao gênero. 

👉 Dica Pedagógica: O EXERCÍCIO FILOSÓFICO


Caro educador, que visita aqui o blog: o que me chama a atenção nas fábulas, apesarem de algumas serem tão curtinhas, é a possibilidade da dialética. 


É característica da fábula vir acompanhada por um dito popular ou frase de moralidade, no final. Muitas vezes, apresentada assim, dessa forma, numa leitura no livro didático, apenas chamando a atenção para o que caracteriza esse gênero literário, perde-se a oportunidade de filosofar junto aos alunos. 

Visto que a própria disciplina de Filosofia tem corrido o risco de ser retirada dos currículos escolares, defendo que o exercício filosófico deve ser uma prática desde os primeiros anos escolares. 

Para isso eu proponho que o trabalho com fábulas entre na agenda semanal como uma rotina. Porém, não basta só a leitura da fábula. Como então, fazer essa provocação, fazer com que os alunos exponham suas ideias e opiniões, de uma forma cada vez mais natural e desenvolvida? Eis algumas sugestões: 
  • Estabeleça dia e horário. Os momentos podem ser de "fechamento" (como antes de sair para o recreio) ou ainda, de "introdução" (o início da aula daquele dia da semana) 
  • Uma cantiga relacionada ao tema ou que tenha uma melodia calma ajuda a preparar o clima, a concentração. 
  • Apresente uma questão, uma pergunta relacionada ao conteúdo daquela frase (pode ser escrita no quadro). Peça que os alunos guardem a resposta/opinião para depois da leitura da fábula. 
  • Momento de fazer a apresentação da fábula (com leitura, vídeo, fantoches,etc). Se for por leitura, pode haver um combinado prévio onde os alunos vão se revezar a cada sessão. 
  • Junte à pergunta inicial a frase de moralidade/ dito popular que acompanha a história. Mas, evite explicar o que ela significa. Agora é a hora do exercício. Vá incentivando os alunos a responderem e colocarem suas opiniões. 
  • Em vez de "fechar" logo a discussão, lance novas perguntas. E ao final, proponha ao grupo a elaboração de uma frase que traduza o ensinamento da fábula para eles. Pode ser que apenas ratifiquem a moral ou ainda, que vejam algum sentido novo.

Por exemplo, a fábula que gravamos (A RAPOSA E O GALO) costuma trazer como moral: "é preciso ter cuidado com amizades repentinas" . Vocês podem chegar a outra moral, observando algum outro aspecto da história...

Em tempos de "fake news" eu gosto de perguntar ao alunos se eles acreditam em qualquer notícia que ouvem por aí... 


"Nem tudo que se vê,
nem tudo que se sente,
nem tudo que se ouve,
se deve fazer patente"


OS FABULISTAS MAIS FAMOSOS: 


Os grandes nomes das fabulas são Esopo, Fedro, La Fontaine e o brasileiro Monteiro Lobato. 

Quem foi Esopo?

As lendas em torno de seu nome o retratam como um escravo, corcunda, gago , porém dono de uma rara inteligência! Nasceu na Grécia, no século VI antes de Cristo. Uma biógrafa egípicia (do Séc. I) conta que Esopo foi vendido como escravo a um filósofo que, admirado com seu talento, lhe concedeu a liberdade. 

Ele sabia contar histórias simples e divertidas, usando os animais como personagens para passar as lições de moral.  E suas fábulas se afamaram,  inspirando numerosos autores no decorrer da história. 

Fedro (30/15 a.C. – 44/50 d.C.) foi um seguidor de Esopo. Fabulista romano nascido na Macedônia, Grécia. Filho de escravos, provavelmente foi alforriado pelo imperador romano Augusto. Quando iniciou-se na literatura, tentou enriquecer estilisticamente muitas fábulas de Esopo, pois a maioria delas não era escrita, mas transmitidas oralmente. 

Fez a sátira dos costumes e personagens da época. Por isso, com o grande incômodo que causaram as suas críticas, acabou sendo exilado. Foi o único poeta do império de Tibério. Publicou cinco livros de fábulas esópicas, com prováveis alusões aos acontecimentos de sua vida.

Outro autor inspirado por Esopo foi Jean de la Fontaine (séc. XVII). Francês, filho de burgueses, teve apoio da nobreza para dedicar-se à literatura. Escreveu poesias e comédias, entretanto, foram AS FÁBULAS (escritas em versos e reunidas em 12 livros) que o tornaram conhecido no mundo inteiro. 

As fábulas clássicas ganharam vida nova com as adaptações de La Fontaine, misturando humor e poesia. Tornaram-se verdadeiros retratos de como era a sociedade. Graças ao sucesso desta obra, ele conquistou uma cadeira na Academia Francesa de Letras e ficou conhecido como o "poeta da França". 

Já o brasileiro Monteiro Lobato, autor do conhecidíssimo Sítio do Picapau Amarelo, dedicou um dos volumes que compõe essa obra  exclusivamente  às fábulas.  No livro as fábulas são contadas por Dona Benta e no final, seus netos e a boneca Emília comentam o que ouvem. Aliás, diversas vezes a Emília contesta a fábula e seus personagens, fazendo graça com novas reflexões.  

O nome completo de Lobato era José Bento Renato Monteiro Lobato, nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Taubaté em 18 de abril de 1882 e morreu na cidade de São Paulo em 4 de julho de 1948. 


FONTES DE PESQUISA

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo, Global, 2000.

MOTA, Leonardo. Adagiário brasileiro. São Paulo. USP, 1987

https://www.materias.com.br/literatura/o-que-sao-fabulas.html

https://www.pensador.com/autor/fedro/biografia/



terça-feira, 14 de maio de 2019

RECEITA DE BRIGADEIRO DE INHAME

Após a história do João Guloso, fui ensinar à Scheila Santiago 
como se faz um brigadeiro à base de inhame. Além da receita, contei pra ela algumas curiosidades sobre a origem do brigadeiro: 

Aprendi essa receita com a Mabel Caldas, que faz parte da Associação de Produtores, Moradores e Artesãos de Barra Alegre (Bom Jardim - RJ). Na localidade de Santo Antonio existe um evento tradicional (Festival do Inhame) que promove um concurso maravilhoso de criação de receitas à base desse tubérculo. 

Essa é uma boa ideia para as crianças provarem o inhame de outra forma! É um alimento cheio de benefícios:
  • Bom para a saúde da mulher: o consumo de inhame é útil na menopausa, para a tensão pré-menstrual, endometriose, doença fibrocística da mama e fibrose uterina. E ajuda a aumentar a fertilidade. 
  • Os compostos antioxidantes do inhame – betacaroteno e vitamina C – ajudam a prevenir os mais variados tipos de câncer. 
  • As fibras do inhame ajudam a reduzir os níveis de colesterol. 
  • É uma boa fonte de potássio, um mineral que compensa as ações hipertensivas do sódio em nosso corpo.
  • O inhame é ótima opção de alimento para quem precisa emagrecer. Além de pouca gordura, o tubérculo apresenta carboidratos complexos, o que significa que a glicose, um dos produtos finais de sua digestão, será liberada de maneira gradativa para a corrente sanguínea, fazendo você sentir menos fome ao longo do dia. 
  • As fibras do inhame também promovem essa sensação de saciedade. 
  • O inhame é um bom alimento para a prevenção da anemia. 

( Leia mais https://www.mundoboaforma.com.br/6-beneficios-do-inhame-para-que-serve-e-propriedades/#dkc2oyFmJfBKiIkJ.99) 


Segue abaixo a receita por escrito:

2 a 3 inhames bem cozidos, só em água
3 colheres (sopa) de achocolatado
3 colheres (sopa) de leite em pó
1 colher (sopa rasa) de óleo
chocolate granulado ou raspas de chocolate

Amasse bem o inhame cozido e acrescente o achocolatado e o leite em pó, aos poucos. Depois de misturar bem, leve ao fogo numa panela untada com o óleo. Cozinhe até a massa ficar mais compacta e homogênea. (Parece que está grudando na panela, mas conforme esfria, ela desgruda) 

(Eu ainda vou fazer novas experiências para adaptar a receita. Acho válido pensar em usar outras formas para adoçar ou, por exemplo, substituir o leite em pó. Se você fizer alguma variação dessa receita, por favor, compartilhe conosco nos comentários)


Ah, e se você não assistiu o vídeo do João Guloso, não perca a oportunidade: 



quarta-feira, 8 de maio de 2019

MATEMÁTICA, CULINÁRIA e CURIOSIDADES NA HISTÓRIA DO JOÃO GULOSO

Pois é... o João Guloso só queria facilitar a vida da patroa... por isso foi adiantando as divisões, rsrsrs! 

Essa é a justificativa do personagem para ir devorando todos os 32 docinhos que eram para serem entregues à doutora. Confira a história: 


Então, caro leitor, na história o João faz sucessivas divisões por 2 e vai devorando o "resultado", na boa intenção (kkkk). 

Vamos fazer algumas considerações pedagógicas 👇
  • Que tal propor probleminhas com divisão por 2 baseados na história do João Guloso? 
  • Também podemos trabalhar o conceito de prova real, mostrando que a multiplicação é a operação inversa da divisão;
  • Pode-se realizar as divisões fazendo a partilha um a um, usando material concreto para chegar aos resultados. É uma boa forma para depois introduzir o algoritmo. 

Ah, mas tem uma questão para ser discutida com os alunos: seguindo a lógica do João de sempre dividir por 2, ele errou quando comeu o último docinho. Pergunte aos alunos qual seria o resultado de dividir o docinho? 


Bem, além dessas propostas matemáticas, o vídeo já faz o convite para fazer a receita de um brigadeiro diferente: o brigadeiro de inhame! Uma alternativa interessante para oferecer às crianças, já que o inhame é rico em benefícios para a alimentação. 

Confira na próxima postagem a receita em vídeo e por escrito! 


(Ah, a história que foi gravada é uma adaptação do conto que foi publicado no livro "Histórias de dar água na boca", de Rosane Pamplona. Participação especial de Scheila Santiago. Diirigido e editado por Luciano Santos ) 


terça-feira, 30 de abril de 2019

VINGANÇA E SUBLIMAÇÃO NO CONTO "A FLAUTA DO TATU"

Recentemente gravamos uma história adaptada do livro "A flauta do tatu" (de Angela Lago).  

Na minha forma de contar, acrescentei a criação de uma melodia e alguns elementos para aumentar o tom de humor, porém, sem que fosse alterada a estrutura principal (o esqueleto) do conto. 

O resultado você pode conferir aqui: 



Mas, voltando a falar do "esqueleto", logo que li a versão da Angela Lago, lembrei-me de um conto (um mito indígena) que havia lido há alguns anos na obra "Com gosto de terra natal" (de Maria Inez do Espírito Santo).

Em seu livro, Maria Inez apresenta "um novo olhar sobre mitos indígenas brasileiros". Dentre outros contos, lá está "O jabuti e a anta". Apesar de não apresentar os mesmos animais, a história possui a mesma essência: o opressor e o oprimido, o animal grande e mais forte contra o animal menor e mais fraco (porém mais perspicaz). 

Os enredos possuem diferenças de como e porquê a briga começa, entretanto, os elementos essenciais, comportamentos e emoções estão lá, em ambos: 
  • O desejo de vingança que aliena e/ou paralisa; 
  • a competição e os impulsos reativos;
  • a inteligência versus a força bruta;
  • a transformação da experiência negativa em criação artística
As duas histórias terminam com o animal menor retornando muito tempo depois e encontrando a carcaça descarnada do inimigo. E é dessa ossamenta que se faz a flauta e de onde se tira a melodia que encerra a fábula! 

Esse mesmo elemento - o esqueleto - é um conceito ligado ao de arcabouço, e que segundo Maria Inez, "pode inspirar concepções artísticas que permitam o encontro de várias linguagens". A autora propõe, por exemplo, que professores estimulem seus alunos a produzirem uma instalação (que agregue objetos, cores, formas, sonoridades) para recontar essa história, para trabalhar paralelos com situações vividas por eles, pela comunidade.  

Nesse tipo de obra, tão contemporânea, pode-se exercitar a construção/desconstrução/reconstrução... tanto do que é físico (o animal "vira" osso, o osso vira outra coisa, um instrumento musical) quanto do que é sentimento (o sofrimento da perseguição e de tanto tempo de afastamento do lar transformado em expressão artística, em música). 

No entanto, além desse exercício onde a Arte sublima e restaura, precisamos refletir sobre outros pontos. Maria Inez lembra "que cada ser humano traz, em si, múltiplas potencialidades" e devemos "reconhecer que, na vida, ora podemos ser como a Anta (ou onça), ora podemos ser como o Jabuti (ou tatu)". 

Pois é... uma verdade que queremos varrer para debaixo do tapete: que nem sempre somos a vítima! Que nós também podemos oprimir, discriminar, agir com descaso. Mesmo que não tenhamos uma intencionalidade consciente disso. 

Outra colocação da autora é muito relevante e deve ser discutida junto aos nossos alunos:


"As consequências negativas que advêm de ações violentas

(...) podem ocasionar inúmeras outras ocorrências prejudiciais imprevisíveis".



Infelizmente, isso soa tão próximo de nossa seara, no nosso cotidiano escolar... 

Ora, mas voltemos às alternativas! Voltemos nosso olhar e nosso empenho para a recriação, o uso da Arte e da Filosofia (sim, filosofar com nossas crianças  e jovens) para transformarmos algo. Aquilo que é pesado e forçado, em algo mais leve e auspicioso. Sublimar... 

Dicas pedagógicas: 

  • eu recomendo a leitura desta obra: "Com gosto de terra natal" , de Maria Inez do Espírito Santo (Ao Livro Técnico. Rio de Janeiro, 2012). O livro traz outros mitos indígenas acompanhados de muitas reflexões e sugestões especialmente direcionadas a professores. 
  • E recomendo que usem a leitura e o vídeo da história "A flauta do Tatu" e proponham dramatizações (incluindo formular finais diferentes para os personagens)
  •  E ainda, que tal construir instrumentos sonoros e percussivos utilizando sucatas? (No vídeo eu uso um reco-reco feito com uma garrafa plástica e uma colher de pau para simular o tatu cavando, cavando).  
Bom, eu aguardo seu comentário, contribuição, seu relato de experiência. Compartilhe conosco se esta história contribuiu com seu trabalho. Até mais!

domingo, 14 de abril de 2019

O VALOR DA PERSEVERANÇA E O CONTO "A COROA DO REI"

Recentemente aprendi uma história muito legal: A COROA DO REI. 
Um conto francês  baseado numa sequência de dobraduras, que foi pesquisado e traduzido pela Ana Flávia Basso (Educar com Histórias). 

Tão legal que logo me pus a ensaiá-la e utilizá-la na sala de leitura da escola!  E ainda, tive a oportunidade de testá-la num sarau com adultos. 

Nesse processo fiz as minhas adaptações (já que quem conta um conto aumenta um ponto, rsrs) introduzindo musicalidade nas sequências. Resolvemos gravar um vídeo para colocá-lo no Canal HVs (e mais adaptações foram feitas, numa edição primorosa do Luciano Santos, parceiro do canal): 


Esse processo de adaptação é algo natural, especialmente quando mudamos o tipo de suporte ou situação de apresentação da história. Tradicionalmente, é uma história para ser contada de uma forma intimista, manipulando o papel na frente do público (digo público em vez de dizer crianças porque realmente é uma história encantadora, que deixa pessoas de todas as idades impactadas a cada transformação da dobradura). 

Realmente exige um certo treino e persistência para aprender e executar as dobraduras com naturalidade, enquanto também se apresenta a  história. De início, parece que não vai dar, que é muito difícil... mas quando conseguimos, nossa! Que resultado! Que satisfação! 

Então... tudo isto levou-me a refletir... 

O processo de dominar a técnica e a história inicialmente é difícil... e o próprio conto nos traz uma situação onde o protagonista precisa ser perseverante para encontrar o que busca! 

Em sua jornada o rei recebe tantas negativas! Porém, que contém pistas sobre o caminho a ser seguido. Chamou-me a atenção ser a própria figura do rei (e não um lacaio ou algo assim) a ter que procurar, investigar, passar por provações, refazer seu barco, dialogar com criaturas humildes, precisar da ajuda de outrem... 

Um dia aprendi que quando uma história nos escolhe (rsrsrs) devemos observar onde as linhas dela se encontram e cruzam com as linhas de nossa vida. Atualmente me vejo assim, tendo que perseverar num objetivo que estou buscando e que os caminhos ainda estão se delineando para mim... com várias negativas, é claro, tentando me fazer desistir.   

A sabedoria das histórias é realmente algo fantástico! Enquanto escrevo para você, caro leitor, escrevo para mim, para lembrar-me do valoroso esforço da busca, para chamar-me a atenção de não perder o foco! 

Ora, ora... quem nunca encontrou dificuldades para alcançar um desejo? Portanto, vamos perseverar! 

Caríssimo leitor, curta a história! Utilize-a pedagogicamente. Utilize-a em família. Encante suas crianças. Encante seus idosos. Encante a você mesmo! 

               👉 Relato de um desdobramento

Ao trabalhar essa história na escola surgiu uma brincadeira: na fila ou na rodinha cantamos a cantiga  imitando o diálogo do rei com os personagens. Mas, trocando o personagem pelo nome da criança. Assim: 
- Fulano, Fulano, onde está a coroa do rei? 
- E o Fulano respondeu: (e a criança com aquele nome respondia)
- Eu não sei! 
Respeitamos a ordem da fila do da rodinha. E foi muito divertido! E útil também (rsrsr), afinal me ajudou a lembrar o nome de tantas crianças que atendo e serviu como aquelas cantigas que usamos para deslocar uma fila de um lugar para outro dentro da escola.  

👉Dicas pedagógicas

  • Quando falamos de adaptações sempre estamos falando de mudanças que podem enriquecer a narrativa desde que o "esqueleto" da história seja respeitado, mantido (existem muitas adaptações por aí que empobrecem o conteúdo, a exemplo do que se faz muito com os clássicos universais);
  • Em vez de rei, pode ser por exemplo, uma princesa que busca sua coroa. Uma alternativa bacana se você quiser valorizar o protagonismo feminino. E isso não altera a estrutura do conto. 
  • Treine bastante a sequência de dobraduras antes de apresentar a história pela primeira vez. Importante: sempre vinque bastante cada dobra! Isso ajuda bastante. 
  • Visite o canal "Educar com Histórias" e confira o tutorial que a Ana Flavia Basso fez:  

Ah, minha gratidão a Ana Flavia por ter compartilhado tão lindo conteúdo! 👍


terça-feira, 2 de abril de 2019

DIA INTERNACIONAL DA LITERATURA INFANTIL

2 de abril de 1805 - nascimento de Hans Christian Andersen, considerado o "Pai da Literatura Infantil" por ter sido o primeiro autor a publicar histórias para crianças.  

Nascido na cidade de Odense (atual território da Dinamarca), teve sua infância  marcada pela pobreza e pela recorrente evasão escolar. Mãe lavadeira, pai sapateiro e ainda uma irmãzinha: a família vivia e dormia num único quarto, com muitas dificuldades. 

Por outro lado, tinha um pai amoroso que, apesar de analfabeto, lhe fomentou a imaginação e a criatividade. Dentre as histórias que contava, o pai  apresentou-lhe obras como "As Mil e Uma Noites" e o presenteou com um teatrinho de marionetes. Hans apresentava no seu teatro peças clássicas, tendo chegado a memorizar muitas peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos rudimentares feitos à mão por ele e por seu pai. 

Em 1816, seu pai morreu e ele, com apenas onze anos de idade, foi obrigado a abandonar a escola e forçado a se sustentar. Trabalhou como aprendiz de tecelão e, mais tarde, para um alfaiate. 

Aos quatorze anos, mudou-se para Copenhague para procurar emprego como ator. Tendo uma excelente voz de soprano, foi aceito no Teatro Real da Dinamarca, mas com o avançar da puberdade, sua voz logo mudou. Um colega do teatro disse-lhe que o considerava um poeta. Levando a sério a sugestão, começou a focar-se na literatura. 

Mais tarde, já adulto, teve a sua educação financiada por um amigo, no tempo que trabalhou no teatro (ator, bailarino e escritor de peças).  

Entre 1835 e 1842, Andersen lançou seis volumes de Contos, livros com histórias infantis traduzidos para diversos idiomas. Ele continuou escrevendo seus contos infantis até 1872, chegando à marca de 156 histórias. 

No final de 1872, Andersen ficou gravemente ferido ao cair da sua própria cama, e permaneceu com a saúde abalada até 4 de agosto de 1875, quando faleceu aos 70 anos. 

Para o canal das Histórias Viajantes gravamos uma versão de sua biografia num formato de fácil compreensão para as crianças: 




Sobre sua obra: 

Andersen lia muito. Adaptou coisas que aprendeu no folclore e dava a elas o seu toque pessoal. E apesar de ter escrito diversos romances adultos, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos de fadas que o tornaram famoso. Especialmente pelo fato de que, até então, eram muito raros livros voltados especificamente para crianças.

Segundo estudiosos, ele foi a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças". 

Com seus contos ele apontava os confrontos entre poderosos e desprotegidos, fortes e fracos, exploradores e explorados. Também pretendia demonstrar a ideia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais. Ao mesmo tempo que romântico, de uma poesia rebuscada, tinha um olhar atento e crítico, que questionava a sociedade. 

Seus textos são carregados de compaixão, carinho, mas ao mesmo tempo mostra a crueldade, a vida como ela é. E nos ajuda a ter consciência do que é próprio de ser humano. Seus personagens transitam entre dificuldades e elementos mágicos. E muitos dos contos não possuem final feliz...

Um de seus contos mais conhecidos - O Patinho Feio - confunde-se com a própria história do autor,  marcada pelo bullying e pelas dificuldades. 

Confiram o vídeo que preparamos baseado na versão original do autor: 



Desde 1956, é concedido o Hans Christian Andersen Award -  um prêmio literário batizado em homenagem ao autor, e que é considerado o "Prêmio Nobel da literatura infanto-juvenil".

Suas histórias mais famosas: 

·  A Pequena Sereia
·  A Roupa Nova do Rei
·  A Princesa e a Ervilha
·  A Pequena Vendedora de Fósforos
·  A Polegarzinha
·  A Rainha da Neve
·  A Pastora e o Limpa-chaminés
·   O Patinho Feio
·   Os Sapatos Vermelhos
·   O Pequeno Cláudio e o Grande Cláudio
·   O Soldadinho de Chumbo

quinta-feira, 21 de março de 2019

SOPA DE MEIAS - A EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

Depois da gravação dos vídeos com a história e a receita de sopa de meias, decidi apresentar os vídeos às crianças, mas com um complemento: levar uma pequena amostra da sopa para que elas provassem. 

E resolvi contar sobre isso aqui porque os resultados foram melhores do que o esperado! 

(As atividades foram feitas com as turmas do Pré 1 ao 5º ano). 

A sequência de atividades foi a seguinte: 
  1. Exibição do vídeo "SOPA DE MEIAS
  2. Apresentação do livro "HISTÓRIAS DE DAR ÁGUA  NA BOCA", de Rosane Pamplona 
  3. Leitura do conto "NÃO FOI SOPA", onde a autora conta uma memória negativa na infância com relação a uma sopa horrorosa que ela teve que tomar 😝
  4. Exibição do vídeo "COMO FAZER SOPA DE MEIAS" 
  5. Explicação dos conceitos de metade (meio/ meia) que aparecem na receita de várias formas
  6. Oferecimento aos alunos de uma pequena prova da sopa pronta. 

E o que aconteceu? 

Primeiro, uma grande curiosidade para saber como a "meia" iria entrar na sopa (rsrsrs). Riram quando perceberam a brincadeira contida na proposta. Depois que viam a receita, muitos se animaram rapidamente a provar. 




Servi a sopa gelada (porque a atividade aconteceu em março, numa semana de muito calor). Em pequeninas porções servidas em copinhos de café com colherinhas. 

E então...

  • A maioria dos alunos AMOU 💗 Alguns repetiram muuuuiiiitas vezes!!! 
  • Cerca de 10% das crianças não provaram ou provaram e disseram que não gostaram. 
  • Algumas crianças queriam levar para casa para que a mãe provasse (rsrsr)
  • Algumas me deram o retorno pessoalmente ou pelas redes sociais dizendo que pediu para a mãe fazer em casa e que todo mundo aprovou. 
  • Na semana seguinte, professores e alunos  me pediram a receita por escrito. 
  • Alguns professores disseram que vão realizar desdobramentos pedagógicos a partir da história (principalmente em Matemática) 
Foi mais uma daquelas atividades onde conseguimos atingir objetivos pedagógicos de forma muito lúdica e aprazível. E que fica na memória! 

Gratificada... 😊

👉 Algumas considerações:
  • A prova do alimento é sempre uma oferta. A criança não pode ser forçada a experimentar, nem ser constrangida quando se negar a participar. 
  • Cuidados de higiene no preparo e na forma de servir são essenciais. 
  • Devemos provar e avaliar bem o sabor antes de servir. O segredo desta sopa está equilíbrio de sabores (quantidades iguais de legumes utilizados) nos temperos (usei manjericão, manjerona, hortelã-pimenta, salsa, orégano e uma boa dose de azeite). Sem abusar do sal! 
E além de tudo o que já foi falado aqui, trabalhar com receitas é sempre uma forma legal de fazer uma aproximação com as famílias dos nossos alunos. 

E você leitor, o que acha? Quer me contar uma experiência experiência pedagógica que já vivenciou com a gastronomia? 


Eu sou a Marisa, das Histórias Viajantes. 
Professora, contadora de histórias, Pedagoga pós Graduada  em Formação de Leitores. 
Trabalho numa sala de leitura de uma escola pública. Atualmente atendo a 16 turmas por semana, do Maternal ao 5º ano do Ensino Fundamental. Realizo empréstimos, leituras e contação de histórias. Muitas vezes, procurando fazer uma ponte entre o trabalho de formação de leitores e a demanda que os professores apresentam. 









COISAS QUE O POVO DIZ

A VERDADE POPULAR NEM SEMPRE AO SÁBIO CONDIZ, MAS HÁ VERDADE SERENA NAS COISAS QUE O POVO DIZ.                    (Aldemar Tavare...